Desabamento parcial do bloco 7 do Conjunto Beira Mar, em 2023, terminou em tragédia

Com o desabamento, nesta terça-feira (6), do Edifício Kátia Melo, no bairro de Piedade, apenas dois dias depois de ser interditado pela Defesa Civil de Jaboatão dos Guararapes - e, felizmente, sem vítimas fatais -, mais uma vez, Pernambuco se vê diante de uma problemática que já dura quase cinco décadas: a insegurança a que estão sujeitos os moradores de prédios-caixão na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Em um estudo desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) em 2023 - complementado em 2024 -, cerca de 254 mil habitantes do Grande Recife moram em prédios construídos em alvenaria resistente (termo mais técnico para designar prédio-caixão), o que representa 8,5% do total populacional do RMR.

O histórico nos mostra que, de 1977 até 2023, houve um total de 18 desabamentos de prédios-caixão, resultando em 54 vítimas fatais. Só em 2023, foram registrados dois desabamentos com mortos: o Edifício Leme, em Olinda, que ruiu após interdição, chegando a vitimar fatalmente seis pessoas; e o bloco 7 do Conjunto Beira Mar, em Paulista, que desabou parcialmente, provocando a morte de 14 pessoas.

Por que um prédio-caixão desaba?
Há 20 anos, está proibida em Pernambuco a construção de novos edifícios-caixão. Isso porque foi constatado que a construção não apresentava condições de durabilidade e resistência ao longo do tempo. Esse tipo de imóvel se popularizou nos anos 1970, especialmente entre as classes de menor poder aquisitivo – devido ao seu baixo custo, sendo uma “solução” para um profundo déficit habitacional à época.

Mas por que essa alta incidência de desabamentos de prédio-caixão? Em resumo, o que diferencia um prédio-caixão de outro tipo de edificação é, basicamente, o fato de usar alvenaria resistente na função estrutural do prédio, ou seja: no lugar de vigas e pilares, são as próprias paredes da edificação que sustentam a estrutura. 

 

De acordo com o engenheiro civil Luiz Fernando Bernhoeft, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), esse foi o grande equívoco, quando, na sua concepção, não levaram em consideração a durabilidade e a resistência da estrutura ao longo do tempo.

“Eu não posso usar o mesmo tijolo quando a parede tem função estrutural para quando ela não tem. E no prédio caixão foi feito isso, exatamente isso. Então, eles são mais frágeis por natureza”, explica. 

“Naquela época, não se pensava muito em durabilidade, se pensava em deixar o prédio em pé. Hoje, as normas estão preocupadas em deixar o prédio em pé, mas, também, que esse prédio tenha uma vida útil, uma durabilidade compatível", disse Luiz,

"Quando eu pego um bloco, um tijolo cerâmico comum, que é feito só para vedação, e uso ele com a função estrutural, mesmo fazendo um cálculo - esses prédios eles tinham cálculo estrutural -, eu estou subestimando uma coisa muito grave, que é a degradação ao longo do tempo”, conclui.

 

Bernhoeft explica que já foram desenvolvidas soluções técnicas para corrigir essas questões nos atuais prédios-caixão e permitir uma maior vida útil. Porém, geram um custo alto proporcionalmente ao valor do imóvel, o que torna pouco atrativa a intervenção. 

Ele também constata que, sem qualquer intervenção para correção, se continuarem como estão, novos desabamentos podem vir a acontecer. “Infelizmente, eu te digo: não vai parar, não. Porque é um problema crônico. Esse é o tipo de prédio que nasceu para cair com pouco tempo".

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