A reconstrução mamária não traz apenas a restauração física, mas ainda um profundo suporte emocional e psicológico

No mês do Outubro Rosa, a campanha mundial de conscientização sobre a importância da prevenção do câncer de mama, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que as mulheres estão sendo atingidas cada vez mais cedo pela doença. O INCA revela que no Brasil, com exceção dos tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais comum e incidente em mulheres de todas as regiões do país. 

Os últimos dados do Instituto mostram ainda que em 2023, a estimativa foi de mais de 73 mil novos casos no país, representando aproximadamente 29% dos diagnósticos de câncer entre elas. A detecção precoce continua sendo essencial para aumentar as chances de cura, e o INCA reforça a importância do autoexame e da mamografia periódica, além de destacar que as ações de prevenção e conscientização ajudaram a reduzir a taxa de mortalidade.

Mas, para as mulheres que precisam enfrentar uma mastectomia, seja parcial ou total, o acesso à reconstrução mamária ultrapassa os limites estéticos. O cirurgião plástico André Eyler, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da American Society of Plastic Surgeons, expert nesta área, alerta que o procedimento desempenha um papel crucial no processo de recuperação física e emocional, trazendo diversos benefícios para a saúde mental das pacientes.

“Após a mastectomia, muitas delas passam por dificuldades com a aceitação da nova imagem corporal e na perda de um símbolo de sua feminilidade, o que pode afetar significativamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida. Porém, a intervenção  produz um impacto marcante nas pacientes, uma vez que a reconstrução mamária oferece o resgate da autoestima e confiança, além de promover uma espécie de sensação de reintegração com seu corpo.”, afirma o Dr. Eyler. 

A reconstrução mamária não traz apenas a restauração física, mas ainda um profundo suporte emocional e psicológico com o restabelecimento da autoimagem e identidade pessoal. Isso porque em diversas situações a perda de uma ou ambas as mamas pode gerar sentimentos de inadequação e falta de feminilidade, assim como desencadear quadros de transtorno de ansiedade ou depressão. A cirurgia ajuda a promover uma melhor aceitação de si mesma e é um fator que contribui para o retorno normal e mais rápido à vida social.

Segundo o especialista hoje se alcançar resultados cada vez mais aperfeiçoados, além de existirem várias técnicas avançadas que são aplicadas de acordo com o quadro.  Atualmente, os modernos métodos cirúrgicos usam tecidos autólogos (da própria pessoa, que não causam rejeição) ou implantes para criar uma mama que se assemelha em sensibilidade à natural. “Ainda costuma acontecer uma reação positiva em relação ao processo todo, inclusive no tratamento oncológico, o que traduz em uma resposta de melhora do sistema imunológico, sobretudo naquelas que são muito abaladas pelo trauma, depressão ou estresse”, afirma o médico.

A saúde mental das pacientes também é beneficiada por uma sensação de ‘encerramento’ no processo e etapa do tratamento e proporciona maior resiliência. Para muitas mulheres, a reconstrução pode alegoricamente refletir o fim de uma fase difícil e o início de um novo capítulo, ‘livre’ da doença. Essa sensação de “renovação” pode amenizar o estresse, a ansiedade e os sintomas de depressão, que frequentemente acompanham o diagnóstico e tratamento oncológico. “A cirurgia facilita na recuperação e devolve um sentido de volta à normalidade. O corpo,

modificado pela mastectomia, pode ser uma lembrança constante da doença, o que prolonga o trauma emocional. A reconstrução minimiza o sentimento de luto pela perda corporal”, assegura o cirurgião.

Outro ponto importante é a melhora na relação com a sexualidade, porque muitas  mastectomizadas relatam que a remoção das mamas prejudicou sua capacidade de interatividade sexual e íntima com o parceiro. 

O especialista esclarece que na maioria dos casos é indicada a reconstrução mamária imediata, no entanto isso pode depender da agressividade do tumor. "No entanto, a cirurgia pode ser realizada em duas ou três fases devido à dificuldade em certos episódios para se alcançar a simetria das mamas. Mas, quando é possível, se faz tudo em tempo único, na mesma cirurgia.”, diz o Dr. Eyler.

Na cirurgia, além de se buscar melhorar a simetria corporal, se evita futuros problemas posturais e desconfortos físicos que podem surgir depois da mastectomia. Isto favorece mais equilíbrio e alívio de dores nas costas, ombros e pescoço. Um outro aspecto relevante é a possibilidade de detecção precoce de reincidências, pois com a presença de uma mama reconstruída, o autoexame e os exames médicos de rotina se tornam mais eficazes, porque qualquer alteração na mama reconstruída pode ser observada mais nitidamente. “A reconstrução mamária é um recurso que promove a adaptação emocional e a mulher não necessita ficar, na maioria das vezes, um período prolongado sem o órgão”, complementa.

SUS oferece reconstrução da mama

A conquista da reconstrução da mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é relativamente recente. Houve um tempo que não se considerava importante a reconstrução mamária e esse direito foi muitas vezes negado à mulher, levando-se em conta somente o foco no tratamento oncológico. Mas em 1999 foi publicada a primeira lei sobre a obrigatoriedade de cirurgia plástica reparadora da mama nos casos de mutilação decorrentes do tratamento de câncer no SUS. Em 2001, a lei abrangeu a obrigatoriedade dos procedimentos nos planos de saúde. E finalmente em 2013 um projeto de lei fez obrigatória a informação e, sempre que possível, a realização da reconstrução da mama no ato operatório em que é feito o tratamento oncológico.

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